Na coluna da semana passada falei da importância de ser espontâneo na TV, citando como exemplos Faustão e Silvio Santos. Claro que deveria ter mencionado também a Hebe.
A apresentadora, que nos deixou no último sábado (29), não será lembrada apenas pela espontaneidade, mas pela autenticidade. Nunca teve medo de falar o que pensava, era consciente de seu papel de formadora de opinião e buscava se posicionar em relação a todos os assuntos.
Com isso, passou a ser vista pelos críticos como reacionária e conservadora, malufista e moralista. Ela era? Era, mas, como diria Cléber Machado, também não era.
Hebe fez aborto, casou de vestido rosa porque não era mais virgem e se divorciou do primeiro marido. Mas isso não a impediu de ser católica fervorosa, amiga de padres famosos e devota de Nossa Senhora Aparecida.
Hebe pediu voto em Paulo Maluf, mas era admiradora de Lula e tornou-se amiga da Presidenta Dilma. Aliás, abandonou Maluf por entender que a amizade dele era interesseira.
Foi artista numa época em que isso era mal visto para as mulheres "de família". E, apesar de ter um grande público formado por donas-de-casa e, por vezes ter sido acusada de ser machista, Hebe não deixava de ser feminista, porque abordava assuntos de interesse da mulher em seus programas. Nada de artesanato, culinária ou educação de filhos, mas comportamento, liberdade, sexo, igualdade.
Era querida igualmente pelas mulheres ricas e pelas pobres.
Hebe não era um poço de bom-mocismo, não se pautava pelo politicamente correto. Carregava em si tantas contradições quanto qualquer pessoa.
Numa época em que especialistas em marketing trabalham a imagem de celebridades e a figura pessoal dos comunicadores na televisão é substituída por simples apresentadores de formatos prontos e comprados, uma artista como Hebe faz muita falta.
Hamilton Kenji é titular dos blogs obaudosilvio.blogspot.com, letrasdotrem.blogspot.com e transcendentes.blogspot.com
NaTelinha - Roda o VT: A falta que Hebe Camargo faz
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